Era uma vez um prefeito — perdão, um estadista de proporções épicas — que governava sua cidade com mãos firmes e ouvidos seletivamente tapados. Críticas? Jamais! O excelentíssimo gestor tinha alergia severa a opiniões divergentes. Bastava um sussurro de insatisfação e — zás! — lá vinha a justiça, veloz como nunca foi para atender o povo, distribuindo multas dignas de um reality show fiscal.
O prefeito, claro, não era um simples administrador. Era uma entidade iluminada que pairava acima dos mortais. A Câmara Municipal? Um brinquedinho de luxo, como se fosse um castelo de LEGO onde apenas ele decidia as regras do jogo — e trocava as peças quando bem entendia.
Enquanto isso, o povo vivia a fantasia do abandono: hospitais com serviços precários, crianças praticando atletismo involuntário para chegar às escolas, e moradores colecionando festas, mas necessidades básicas, nada. Mas nada disso importava. Afinal, o prefeito reinava em sua bolha dourada, onde tudo era perfeito — desde que ninguém ousasse dizer o contrário.
E assim seguia o reino, com seus súditos cansados, mas advertidos: cuidado com a língua, pois na terra do gestor infalível, até a verdade paga caro.
A cidade se tornou um lugar onde a democracia era só um detalhe – e a opinião do povo, um incômodo descartável; e o iluminado, o Ser Supremo da administração pública governava com punho de ferro e ouvidos de algodão. Um verdadeiro mestre na arte de transformar críticas em multas – porque ali, reclamar era luxo, e quem se atrevesse pagava o preço. Alto, de preferência.
Mas tudo estava sob controle! O prefeito seguia firme, ignorando qualquer sinal de insatisfação – afinal, quem precisa de aprovação popular quando se tem um espelho e uma tropa de advogados.