Opinião

Paulo Afonso (BA) - 30/09/2010

Monólogo de um desempregado

• * O autor é empresário e administrador

                                                      - Dr. Pimenta -

Estava pensando, no que seria na vida. Comecei com a possibilidade de ser médico. Salvar a vida das pessoas, curar doenças, ajudar a todos. Nesse mesmo instante, lembre-me de que, para ser médico, tenho de estudar, prestar vestibular, ingressar numa universidade, passar mais de cinco anos estudando e, ainda por cima, fazer residência, trabalhar paralelamente para custear os livros, enfim, dá muito trabalho. E a grana tem de ser muito suada.

Já sei, vou ser advogado. Imaginem: defender as causas dos necessitados, quem sabe ser um juiz, um promotor, ou até um procurador - que nem sei o que eles procuram. Mas, espera aí; terei de estudar, prestar vestibular também; ih! Fazer faculdade, estudar mais por uns cinco anos, fazer concurso para a OAB, mais estudo. Não sei não. Será que vou ganhar dinheiro para ser rico?

Ah!, acho que eu vou ser professor. Numa sala de aula poderei ensinar tudo que eu aprendi, passar conhecimentos, formar cidadãos, pessoas de bem. Mas tem um problema: terei de estudar também. Decorar livros e mais livros, vestibular de novo, uns quatro anos para me formar, sei não. A estrada é muito longa e o salário, uma miséria. Isso se eu arrumar um bom colégio, se não, vou estudar de novo para fazer concurso público para o estado ou para o município. Não dá não.

Agora, sim. Acredito que o melhor para mim é ser jornalista. Serei o Papa da informação. Sempre dizendo a verdade, fazendo as pessoas refletirem sobre os acontecimentos que eu noticiarei. Farei matérias nos mais distantes e diferentes lugares; conhecerei o mundo. Poxa, até que enfim. Mas tem um probleminha: terei de estudar, vestibular, faculdade, procurar um bom jornal ou emissora de televisão, terei de fazer meu nome, ler muito, estar por dentro de tudo, antenado com economia, política, saúde. Não vai dar não.

O que serei, na vida, então? O que posso ser? Boa idéia!: serei político. Isso mesmo, deputado federal ou, quem sabe, senador, qualquer cargo serve. Não precisarei estudar, nem tão pouco prestar vestibular e ficar um tempão em uma cadeira de faculdade. Não preciso curar  doenças nem defender ninguém. Trabalharei somente duas vezes por semana, viajarei muito, morarei de graça, terei muitos empregados sem ter que pagar o salário deles. Puxa saco, então, um monte. Vou ganhar bem e não precisarei falar verdade. Posso mentir, quem sabe até roubar um pouquinho - num vou pra cadeia mesmo. Não preciso saber de muita coisa, pois sempre terei alguém para ler os jornais e revistas para mim, além dessas pessoas assistirem aos telejornais e ouvir os programas de rádio para me contarem o que me interessar. A parte melhor é que ganharei um excelente salário, além do caixa 2 - que já me falaram que não é pouco. Fora as propinas. Estarei sempre na casa dos bacanas e sairei em tudo quanto é coluna social da minha cidade. E o melhor, essa mamata dura quatro anos, podendo continuar por toda a minha vida. Tá aí, uma boa pedida: político. Os anos vão passar e esquecerei os que me ajudaram, mandarei todos para o quinto dos infernos, pois sempre terão aqueles que vão apoiar minhas idéias, que no fim das contas, não vão ser postas em prática mesmo. Eu só quero é ser feliz, pois isso não é ruim.

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