Opinião

Paulo Afonso (BA) - 10/09/2010

Capitalismo e Política

• : O autor é empresário e administrador

                                                                                                                          : Dr. Pimenta

Há certas particularidades do desenvolvimento do capitalismo insuficientemente captadas pelos observadores. Ou, quando menos, escassamente comentadas. Curioso é que, transbordando da análise meramente econômica, tais nuances alcançam a prática política, pelo que se credenciariam a merecer a atenção de maior número de analistas. Se a abordagem exclusivamente econométrica é destituída de atrativos para muitos (dentre os quais me incluo), certamente não o seria a apreciação dos fatos do ponto de vista predominantemente político.

A promiscuidade entre o público e o particular, tão própria dos tempos que vivemos, leva seu alto poder de mestiçagem aos extremos. Daí a quantidade de candidatos a cargos eletivos saídos de segmentos sociais e econômicos anteriormente avessos à atividade política. Pior, agressivamente avessos à Política e aos que fazem dela seu mister prolongado e diário.

Em contrapartida, políticos no exercício do mandato sentem-se inexoravelmente seduzidos pela montagem de negócios produtivos, invadindo a seara dos que os atacavam, não raro chegando à calúnia.

Curioso, porém, é o fato da aproximação crescente entre ambos: empresários travestidos de homens públicos e mandatários docemente inseridos nos meios ditos produtivos. Fácil se torna, portanto, compreender as raízes da promiscuidade. Resta, então, descobrir onde estão os vínculos entre uns e outros e a manipulação do estado moderno. Por ambos, solidariamente.

Nas escolas de Direito, sempre se ouviu dizer que o estado é "a nação (território e povo) politicamente organizada". Os marxistas não concordam com esse conceito, dado que exclui o teor político da instituição mais politizada de que a inteligência humana foi capaz. O estado, assim, pode ser visto como instrumento de dominação de uma classe social por outra. Construir a hegemonia de qualquer delas será o resultado da luta política, onde quer que ela se trave.

O quê, pois, aproxima empresários de origem com políticos de origem, mesmo sabendo-se que, reciprocamente, uns estão longe de confiar nos outros ?

É aí que entra em cena o que, para lembrar a Revolução Francesa, chamaríamos de Terceiro Estado: o poviléu, como o denomina Élio Gáspari.

Fosse permitido ao grosso da população influir no processo político ou apropriar-se com justiça do que lhe caberia, no processo econômico, a hegemonia penderia para o Terceiro Estado. A associação entre empresários-políticos e políticos/empresários é o muro que tem podido, ao longo da história mais recente da humanidade, impedir esse tipo de hegemonia.

Sendo assim, enquanto se exclui a maioria da população do papel que lhe deveria ser reservado, a atividade política resume-se a relações absolutamente negociais.

O voto pedido nos palanques e caminhadas deixa de ser o objetivo, porque adiante dele se coloca a oportunidade de acumular mais que os sufrágios recebidos, mas igualmente riqueza material via de regra traduzia em acréscimo patrimonial. Em sentido inverso, o investimento na colheita de votos dá acesso à possibilidade de influir nas decisões que interessam e - por que não ? - acrescentar mais riqueza ao patrimônio individual.

Não é de estranhar, por isso, a transformação da sociedade em mercado e do cidadão em consumidor. O Estado passa a ser considerado gigantesca empresa, cujo objetivo será beneficiar apenas e exclusivamente os que nele investem tempo e dinheiro, políticos e empresários, por consequência.


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